Guerra Fria

Guerra Fria A União Soviética sai fortalecida politicamente da II Guerra Mundial, mas bastante atingida no plano interno: cerca de vinte milhões de vítimas humanas, mais de quinze grandes cidades destruídas, seis milhões de prédios arrasados, deixando vinte e cinco milhões de pessoas desabrigadas, trinta e um mil e oitocentos e cinquenta empresas industriais desapareceram, as forças armadas foram reduzidas em 75 % em razão das baixas sofridas durante a guerra. Com o fim da guerra, para iniciar a reconstrução, houve uma desmobilização de oito milhões e meio de soldados entre 1945 e 1947, quando o Exército Vermelho chegou a um contingente inferior a três milhões. Como fazer crer que este país estava prestes a invadir a Europa e conquistar o resto do mundo? Os Estados Unidos saem da guerra numa situação bastante diferente. A produção industrial aumentou duas vezes e meia durante o conflito em razão das encomendas de guerra, sua produção industrial representava 60 % da produção mundial, para lá seguia a terça parte das exportações mundiais e 70 % das reservas de ouro dos países capitalistas. Além disso, tinham estabelecido o dólar como moeda internacional no mundo capitalista, fundado o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial na Conferência de Bretton Woods, em 1944. Não seria este o país com mais chances de se constituir numa ameaça à soberania nacional dos demais? Como se sabe, a luta ideológica se trava num prazo longo, portanto medidas urgentes se faziam necessárias. Duas começam a ser articuladas em 1947: a chamada Doutrina Truman e o Plano Marshall. Motivado pelo pedido de ajuda que o governo britânico faz aos Estados Unidos, de que passassem a financiar os governos grego e turco, o presidente Harry Truman enviou mensagem ao Congresso americano justificando a intervenção americana onde houvesse conflitos sociais que ameaçassem o capitalismo: "os povos livres do mundo olham para nós esperando apoio na manutenção de sua liberdade". A Doutrina Truman tinha como base a idéia da contenção do comunismo, defendida por George Kennan, responsável pelos negócios americanos em Moscou. Kennan apresentava a União Soviética como inimigo inconciliável e pregava a construção de "poderosos diques em torno da torrente russa", traduzidos em programas de ajuda militar e não-militar. O Plano Marshal começou a ser articulado no mesmo ano pelo secretário de Estado americano George Marshall. Tinha como objetivo oferecer empréstimos em dólar aos países europeus (inclusive à União Soviética) e desta forma, integrá-los à órbita capitalista, abrindo espaço nestas economias para investimentos americanos. As condições impostas não são aceitas pela União Soviética. Na Tchecoeslováquia a recusa do Plano provoca o afastamento dos liberais, levando os comunistas ao controle do poder, com o apoio de um proletariado bem armado e organizado. Além das definições nos planos político (Doutrina Truman) e econômico (Plano Marshal), a atuação no campo ideológico se impõe. Como ainda havia uma forte opinião pública contra o fascismo e pela paz, era preciso combatê-la, brandindo as armas da "ameaça soviética" e da defesa do "mundo livre". O anticomunismo é retomado como expressão desse embate e os comunistas e a União Soviética são eleitos como ameaça a tais valores. A partir dos Estados Unidos, inicia-se a "caça às bruxas", visando eliminar a presença de comunistas ou esquerdistas em geral do campo da atuação artística e cultural. A Guerra Fria, considerando que teve início com o lançamento das bombas atômicas sobre o Japão, passou por dois períodos de distensão e dois momentos de intensificação do conflito. As fases de distensão são o desdobramento do liberalismo rooseveltiano de 1945 a 1947 e o período iniciado com a morte de Stalin em 1953 até 1957, ano de lançamento pela União Soviética do Sputnik, primeiro satélite artificial lançado ao espaço, expressão de certa dianteira das economias socialistas frente ao capitalismo. Os pontos culminantes no conflito são a fase que começa em 1948 com a tomada do poder na Tchecoslováquia pelos comunistas, passando pela Guerra da Coréia (1950-1953) até 1957 e, por fim, os anos marcados pela vitória da revolução cubana em 1959, passando pela crise dos mísseis em 1962, até o estabelecimento da "linha quente" em 1963, quando Estados Unidos e União Soviética assinam acordo de redução dos testes nucleares e estabelecem uma linha telefônica direta para solução de possíveis crises. Na década de 80, com a ascensão de Reagan ao governo americano e a prolongada estagnação da economia soviética, fala-se em uma "nova guerra fria", que se encerra não mais numa situação de certo equilíbrio, mas com a desintegração da União Soviética, o fim do bloco socialismo, com a queda do muro de Berlim, em 1989. Segundo Vizentini (2000, p. ): A Guerra Fria não pode ser reduzida à sua aparência de conflito entre EUA e URSS. Esta imagem é apenas parte do processo e diz respeito ao imediato pós-guerra […]. A Revolução Soviética criara uma base industrial autônoma, capaz de permitir-lhe independência de ação e de fornecer recursos econômicos e militares às revoluções e ao nacionalismo na periferia. Daí a necessidade de conter não uma existente “exportação da revolução”, mas o apoio da URSS às revoluções e rivalidades

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