Belo Monte, a confirmação de uma obra inviável
Esta semana o Ibama concedeu a LP (Licença Prévia) para liberação do leilão que irá definir o consórcio de empresas (construtoras) que irão construir a Hidrelétrica de Belo Monte, na volta grande do rio Xingu.
A referida hidrelétrica foi pensada há quase trinta anos, quando técnicos estudavam a capacidade energética da bacia amazônica, especificamente a do rio Xingu, atestando uma enorme produção de energia com pontos propícios para a construção de barragens, como no caso de Belo Monte.
A realização do empreendimento nunca avançou além das pretensões governamentais, justamente por pressões de movimentos sociais da sociedade civil organizada, além de diversas instituições internacionais. Na área de abrangência da usina, a 90 km da principal cidade da região, Altamira, é justamente o melhor local, pois aproveita o desnível natural de 90 metros do rio, essa diferença é importante na concepção do projeto.
Não se pode negar que a engenharia de Belo Monte será um marco dessas construções no Brasil. Primeiro pelo aproveitamento da força natural das águas pela turbina. Belo Monte será uma usina a fio d’água, ou seja, não haverá grande represamento a montante para girar as turbinas. A passagem da massa d’água pelas turbinas será na velocidade natural do rio, gerando menos impactos ambientais.
Por outro lado, a construção de dois canais artificiais que rasgaram a floresta para levar água da barragem até a casa de força a quase 90 km de distância, deverá ser impactante ao frágil ecossistema do Xingu. Outro ponto desfavorável a construção do empreendimento, mas que pouco é levado em consideração será a capacidade de geração de energia. Estrategicamente propaga-se que a geração ficará em 11 mil MW de energia, só perdendo para Itaipu (12,3 mil MW).
O problema é que Belo Monte só irá gerar 11 mil MW de energia em apenas quatro meses do ano, no resto sua capacidade se reduzirá a 1/3 da capacidade de geração, ou seja, durante o verão amazônico Belo Monte será subutilizada. Outro ponto negativo ao projeto é a sua localização, seu distanciamento dos grandes centros consumidores. Essa questão gera altos custos de transmissão da energia produzida. Por conta disso, a licitação das linhas de transmissão será feita a parte do processo de construção da Usina, como aponta o jornalista Lúcio Flávio Pinto.
Já me posicionei pessoalmente contra Belo Monte. Não com o discurso simplista de alguns grupos ambientalistas, mais por suas inviabilidades: técnica, ambiental, social e econômica, comprovadas por diversos estudos dos mais renomados especialistas do setor. Então por que construir Belo Monte? Qual justificativa maior?
Se a usina no rio Xingu tivesse sua geração mantida próximo de sua capacidade de geração o ano inteiro, se poderia justificar o custo do seu valor previsto (Tucuruí, por exemplo, teve aumento em dez vezes do seu valor inicialmente previsto) de 30 bilhões de reais. Belo Monte poderá custar bem mais do que isso. Fora o desperdício de energia nos milhares de quilômetros de linhas de transmissão.
Com a licença prévia, cabe agora ao governo via Eletrobrás, marcar o leilão. Em seguida, o consórcio de empresas que ganharem a disputa, cabe preparar todas as garantias previstas em contrato para poderem receber o Licenciamento de Instalação (LI) que garante o início das obras. Com a licença prévia concedida, dificilmente a usina de Belo Monte não será construída.
O Ministério Público Federal continua sua ação contra o empreendimento, por constatar (como de fato ocorreu) desrespeito com relação à obrigatoriedade com cumprimento de algumas etapas, como no caso das audiências públicas, além da falta de consistência técnica no Eia/Rima do projeto.
Parece que o barramento no rio Xingu esconde interesses econômicos ocultos, ou melhor, bem conhecidos, planejados por grupos empresariais nos corredores em Brasília.
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