A miséria global



O terremoto no Haiti, que assolou aquele já miserável país, acendeu o alerta sobre as condições de pobreza de milhões de pessoas ao redor do mundo, ou seja, a miséria global. Antes do terremoto, o Haiti sempre esteve nas condições alarmantes de risco social, com miséria extrema, guerra civil e milhares de pessoas comendo bolos feitos de barro e sal para não morrerem logo de fome, postergando suas vidas por mais alguns meses ou anos.
Com o terremoto de sete pontos que atingiu o país, o mundo voltou-se para a ilha caribenha e assistiu as mais tristes cenas contra a dignidade humana. No Haiti, a diferença agora está na quantidade de escombros, haja vista, que a realidade miserável continua, sempre fez parte do dia-a-dia daquele povo.
A tragédia nos remete a pensamentos, a análises da situação social no mundo. Segundo fontes da ONU, um bilhão de pessoas é miserável hoje no planeta, ou seja, de cada seis habitantes um não tem condições mínimas de se alimentar. Esse dado só vem aumentando, deixando tenebroso o futuro do planeta.

Segundo a ONU, quase três bilhões de pessoas vivem com menos de dois dólares por dia, ou seja, abaixo da linha da pobreza. Se juntássemos as duas pesquisas, teremos a metade da população mundial vivendo na miséria. A África, o continente mais pobre, tem 220 milhões de pessoas em estado de subnutrição grave, ou seja, passando fome. Número que corresponde a um terço da população de todo o continente. Fora os bolsões de miséria na Ásia e na América Latina. Na Europa os pobres estão invadindo os grandes centros das metrópoles do velho continente, sendo empurrados para as periferias, tornando-as um barril de pólvora que a qualquer momento pode explodir.
É inaceitável que em pleno século XXI, na era da tecnologia de ponta, da robótica, de pesquisas que produzam e confirmam o aumento de produção de comida em cada vez menos espaços, com maior velocidade e maior qualidade, evitando-se grande índice de desperdício, milhares de pessoas passem e morram de fome.
A questão da fome não diz respeito (como muitos nos fazem acreditar) na questão do aumento populacional no mundo, como resultado do aumento da miséria. Essa é uma análise simplista e escamoteia as verdadeiras causas do problema. A fome ocorre de forma sistêmica por conta da deficiência na distribuição de comida no planeta. Muitos comem bem, outros (mais larga escala) comem mal, ou abaixo de suas necessidades diárias de ingestão de calorias. Pesquisas feitas ao redor do mundo pela FAO, órgão da ONU sobre agricultura e segurança alimentar, revelam a média de ingestão de calorias no mundo, entre países. O resultado impressiona.
Em média, um americano, de classe média, ingeri por dia 4000 calorias. Já um indiano, por exemplo, come o valor calórico de 2500 calorias. Um senegalês ingere em média 1500 calorias dia, o que representa 1/3 de um americano.
A revolução verde, a pujança econômica nas últimas décadas não garantiram melhor qualidade de vida a todas as pessoas no mundo. Pelo contrário, serviu apenas a uma camada privilegiada da população mundial, que soube utilizar o avanço tecnológico para concentrar mais renda e terra nas mãos de poucos.
“O geógrafo Josué de Castro produziu muitas reflexões sobre a fome no mundo na metade do século XX, sintetizando suas observações em dois livros: “Geografia da Fome” e “A Geopolítica da Fome”, ambos analisando de forma crítica a fome no mundo. As duas obras continuam mesmo depois de mais de 50 anos de publicadas sendo referência sobre o assunto.
Castro produziu uma das mais celebres frases sobre a fome no mundo, segundo ele: “metade da população no mundo não comem. Outra metade não dorme… Com medo dos que não comem”. Uma frase forte, mas que representa muito bem a necessidade de alguns e o medo de outros.
A fome passou a ser algo comercial, é vista por essa forma, como algo que existe por conseqüência do aumento populacional e porque muitos não têm como pagar para comer, como a fome sendo conseqüência da miséria e não ao contrário como de fato é.
A fome dos miseráveis Haitianos só é um mero retrato, uma moldura do emaranhado de imagens tristes dos que não podem comer. Não podem prover da condição mais básica de um ser humano: alimentar-se.

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